segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


Tenho aproveitado os momentos livres das ferias para deleitar-me com a coleção de contos de Clarice Lispector: "Clarice na cabeceira".
O livro possui comentários de personalidades sobre os contos (infelizmente, nem sempre tão bons) que ajudam na preparação para a leitura do conto.
Lendo encantada um de seus contos, me descobri em um certo trecho de Perdoando Deus. Lembrei-me de Mário Quintana que citou: "Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!"
E eu me senti lida naquele trecho de Clarice. Com certeza se você me perguntasse sobre mim, não conseguiria me expressar com tanta clareza sobre quem sou. Mas Clarice quando escreve personifica todas as mulheres, utilizando de toda sua sensibilidade e beleza.
Eis aí o trecho do conto:


"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva[...]"

Um comentário: